tag:blogger.com,1999:blog-21601447975965064022024-02-20T05:41:29.364-08:00Quadrado VermelhoVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.comBlogger200125tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-15942630218321107512019-03-19T06:47:00.002-07:002019-03-19T06:47:19.829-07:00Manhã estranha,nunca mais tive esse tipo de sono que persiste depois de esticar as pernas e suar a têmpora, surpreso pego pelo bocejo no sacolejo do ônibus. Uma menina tossia sem parar, tive que botar os fones de ouvido pra não me irritar - coitada, que culpa tem ela? Acertei e errei ao colocar Christian Scott no play (que às vezes me irrita também com os agudos ultra-penetrantes do trompete e não posso botar fones pra remediar pois já estou de fones e que culpa tem ele?), porque não consegui voltar aos poemas do Leonardo Fróes de tanto que o som me tomou, e depois diria ao Luquitcha pra se ligar nas levadas suaves da condução, que estamos compondo e é preciso estar atento pra pescar as coisinhas que nos deixam felizes.Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-7923207866507047102018-08-10T07:47:00.001-07:002018-08-10T07:47:43.118-07:00EvoluçãoFaz alguns meses que a borboleta entrou no casulo e tá lá, hibernando, pulsando fraquinho. Em breve vai renascer uma lagartinha humilde, sem esplendor. Aos poucos vai tentando entender a natureza dessa evolução. Quer crer que a vida funciona em senóides e que daqui a alguns invernos retoma vôo. Por hora, se convence de que haverá um benefício nesse periodo sem asas – um tipo de liberdade dada pela limitação (entre um algarismo e outro há um precipício).Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-33621038546441110562018-03-06T05:20:00.003-08:002018-03-06T05:24:14.798-08:00Noite a dentroanoitece<br />
e o mundo fica pouco diferente da caverna<br />
<br />
algo em mim não permanece<br />
e me custa perceber a distância do teto<br />
se o que cintila é reflexo ou estrela<br />
<br />
uma tristeza escolar de menino sozinho<br />
faz seu ninho e seus ovos<br />
são âncoras do quarto eterno<br />
tempestade de ânfora que minha ânsia não doma<br />
<br />
ânsia<br />
<br />
espero o meu próprio retorno<br />
na única forma possível do retorno: o sol<br />
quente, o farol em mim<br />
<br />
o herói correto<br />
que acata a ordem dos fenômenos<br />
e dorme profundamente quando<br />
anoitece<br />
<br />
porque demora?<br />
será o teto preto noite<br />
ou a casca interna da caverna?<br />
<br />
me custa perceber o sol<br />
ou será que ele hiberna?Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-1864887695943167522017-09-14T07:40:00.000-07:002017-09-14T07:40:13.426-07:00VizinhançaRosqueava a articulação do pedestal, ajustando o ângulo do microfone enquanto Lucas encaixava o prato de ataque e o cheiro de café fresco subia as escadas. A dois quarteirões dali, Antonio abria o tripé de uma estante, depois de tirar do armário seis caixinhas de microfones – dois deles recém chegados do exterior. Descendo algumas quadras pela Vila Madalena, Samuel procurava o timbre certo da caixa, queria que soasse sequinho e grave. Subindo em direção a Perdizes, Eduardo já passava o som pendindo "bumbo... ok, agora caixa", e, a poucas quadras, Otavio abria as guias no pro-tools enquanto o baterista tirava seus pratos do case. Sorveu um golinho do café e tentou imaginar quantas gravações de bateria estariam acontecendo naquele domingo pela vizinhança.Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-68210952629075083692017-09-12T10:55:00.001-07:002017-09-12T10:55:00.118-07:00Ventos SuficientesA nuvem de chumbo se instaura e fica por um tempo que sempre parece longo demais. Os moinhos eólicos espalhados nesse campo – inspirações, geradores de vontade – não giram faz tempo, suas hélices provavelmente enferrujadas por dentro. Imaginar um mundo em que os maiores obeliscos, se derrubados (ou se nunca tivessem existido), não fariam nenhuma falta, já que é insignificante o contingente de gente que mergulha de fato nas realidades possíveis (ou criadas) e qualquer impressão de relevância é ilusória. Nem mesmo os monólitos mais enraizados, tão mais colossais em sua fatia oculta (icebergs telúricos imunes ao calor em seus corpos de diamante), produzem vento, nem energia, nem inspiração. Mesmo assim, a nuvem presencia a tentativa dos cataventos, pequenos como girassóis espalhados nesse campo, cheios de boas intenções e planejamentos de auto-rotatividade para a geração de ventos suficientes enquanto, lá de cima, bloqueia a corrida natural do grande Ar ao som de uma profusão de promessas, trovões e chuvas torrenciais de flechas daninhas metralhadas na terra, que é eternamente ingênua, fecunda e castigada. O mundo prossegue acidental demais.Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-48052768165352548922017-08-30T06:47:00.001-07:002017-08-30T06:47:53.108-07:00Criasou insumo não-perecível<br />
e me estoco num mar de galpões imaginários<br />
afundo e surjo com o bico dos telhados<br />
transgredindo o chão<br />
negligenciando o peso real das coisas<br />
e então vazo ao inverso<br />
ignorando a obrigação do mundoVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-40609624212674743282017-08-10T12:21:00.000-07:002017-08-10T12:21:02.283-07:00Água e LascasAtiro lascas na superfície do facebook<br />
sem temer que me faltem (ou apaguem)<br />
porque tiro, sem repouso, água de um poço<br />
que é uma garganta de pedra mascavo<br />
casulo de possíveis mariposas<br />
e na rapadura do poço a água vem cheia<br />
de estilhaços, pó de asas e lascasVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-29030742409572449442017-05-05T12:19:00.003-07:002017-05-05T12:19:55.600-07:00São paulo, qualquer sexta de manhãSe atrasava margeando a marginal<br />
enquanto a anca do guarda-chuva<br />
arrancava torções de outras copas<br />
<br />
é claro que a garoa não chegava a aguar o café<br />
gelado mesmo no frio – suave no peito mas forte no pé<br />
<br />
calcanhares ensopados numa leitura dramática:<br />
um lava-pés involuntário e sem cerimônia<br />
encerrado mas de cadarços soltos e sujos<br />
settando o mood caramujo do resto do diaVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-53520336608691763622016-02-18T04:56:00.002-08:002016-02-18T05:00:44.507-08:00BurroQuando o diretor do departamento passou por trás dele, enquanto trabalhava, viu-se com muita clareza – um momento enorme de consciência de si mesmo – e percebeu como olhava de forma burra para o computador. Percebeu que era burro ali, naquela situação, naquele momento. Ou pior: naquele <i>tipo de momento</i>. Era burro por grande parte do dia, todos os dias, e não se dava conta direito alt+tabVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-33466543345310464962015-12-11T05:29:00.001-08:002015-12-11T05:29:09.330-08:00Ruas sem donoNa cidade do bom gosto<br />
molhada da garoa quente<br />
as ruas seriam compridas<br />
não teriam nome de genteVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-58364204515131795462015-08-13T07:32:00.002-07:002015-08-13T07:32:54.358-07:00Sem acúcarCruzávamos um arco alto para uma varanda do Louvre, onde servem café (nunca estivemos juntos na França).<br />
- Un café, sans sucre.<br />
- Desolé, on a solement du café sucré.<br />
- Comment?<br />
- Oui, du café sucré.<br />
Eu não queria sair da dieta. Ela perdia a paciência:<br />
- Deux.<br />
Ele trouxe a máquina, paguei com o cartão. E então mudei de ideia:<br />
<br />
(era o relato de um sonho. Não terminei de escrevê-lo no dia e me esqueci completamente do que acontecia depois)Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-9230197060585757692015-07-31T07:20:00.001-07:002015-07-31T08:11:48.406-07:00Linha AmarelaLinha azul adentro<br />
ruídos profundos e crônicos confundem<br />
esclarecem cegam guiando contundem<br />
batelada de murros sônicos<br />
<br />
só na amarela é que enfim <i>escuto</i><br />
a Luz no fim do túnelVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-42986914969952906752015-07-31T07:16:00.001-07:002015-07-31T07:16:27.381-07:00FortalezaNo dia em que eu deixei a infância<br />
deixei de acreditar no pai do céu<br />
meu pai deixou de acreditar na Terra<br />
ficou um pouco senil<br />
<br />
Abri mão de um e foi como perder os dois<br />
<br />
desde então<br />
só o encontrei uma vez<br />
em FortalezaVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-30111299357967907812015-07-12T21:32:00.002-07:002015-07-13T02:46:40.154-07:00EfeméridesCerveja. Tomei hoje com dois conhecidos-desconhecidos – um triângulo escaleno na sala de estar, lar que chamo de lar há menos de ano. Mas já estou acostumado. Com os lares temporários, com as efemérides. A tv fala sozinha e não se envergonha, não se incomoda com o fato de que a ignoramos (e por isso talvez tenhamos muito o que aprender com ela). Calculo. Escolho entre as frases que constroem planos e as que fortalecem o amor. Julho é tempo de amor, eu acho, mas nem todos estão de acordo. Um deles encontra amor nos planos, e aí? E aí que as frases prosseguem, pra uns construindo planos, pra outros, amor. A gente nunca sabe o que vai ser do amor que a gente dá.Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-72112188277218742992015-04-16T10:39:00.000-07:002015-04-16T12:42:55.568-07:00Nota de RodapéAcordei com uma sensação esquisita, não estava em casa. Fui à cozinha, a tia do Ricardo tinha preparado café. Os amigos ainda dormiam, os olhos ainda embaçavam, a manhã ainda esquentava enquanto o café pretendia o contrário. A tia, simpática, perguntou como eu tinha passado a noite antes de se retirar do cômodo. Pinguei leite frio no café depois de queimar de levinho a ponta dos dedos no copo de vidro. Eu tinha lido um conto do Borges na noite anterior, antes de dormir, e uma ideia que mal estava no livro enganchara-se em minha cabeça a ponto de me encarar, agora de manhã, no espelho escuro da superfície do café. Lera, numa nota de rodapé:<br />
<br />
<i>Russell (The analysis of mind, 1921, p.159) supõe que o planeta foi criado há poucos minutos, provido de uma humanidade que recorda um passado ilusório. </i><br />
<br />
A ideia flutuava no café parado com a vaga descrição do meu rosto perdido em ficções.Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-57265623911415953272015-03-12T04:46:00.004-07:002015-03-12T10:53:47.780-07:00Sonho #150311Saí no meio do expediente pra fazer esse teste em outra empresa que não era nem do meu campo de atuação profissional. Alan, um conhecido meu, me recebeu na recepção, bonito e forte, cabelos castanhos-ferrugem, enrolados e esticados com gel, sua expressão ingênua e meio imbecil. O aspecto do lugar era semelhante ao de uma clínica. À esquerda, vi algumas pessoas imersas em água e gelo, em banheiras iguais umas às outras.<br />
<br />
Preenchi um formulário, fiz uma curta entrevista. Depois, fui conduzido a uma sala na qual havia uma banheira semi-cheia. O ambiente era limpo, as janelas eram retângulos horizontais pequenos e largos, já próximas ao teto, percorrendo toda a extensão de uma das paredes. E mesmo com os raios de sol na sala, a luz predominante era fria, de lâmpadas fluorescentes. Lajotas, chão também de louça, tudo verde clarinho, azul clarinho, branco. A banheira estava no meio da sala, branca também, um pouco encardida.<br />
<br />
- Pode entrar.<br />
<br />
A doutora era a mãe do Alan. Me despi e entrei na água enquanto ela se sentou numa cadeira de madeira ao meu lado, prancheta e caneta nas mãos. Começou anotando algumas coisas enquanto meu corpo se acostumava com o líquido e a nudez. Após alguns minutos, ela colheu um punhado de pedras de gelo e jogou na altura das minhas coxas. Senti o geladinho na pele, ela fez mais algumas anotações.<br />
<br />
- Vamos ao que interessa.<br />
<br />
Dois enfermeiros entraram no quarto e despejaram um saco grande de gelo em cima de mim, na água da banheira. A água foi esfriando muito rápido e logo o frio invadiu meu corpo. Senti a pele ficar com um aspecto endurecido, as extremidades arroxeando, os músculos enrijecendo. A sensação da temperatura começou a apontar pequenos focos de dor aqui e ali, dores superficiais. Finalmente, ficou evidente o órgão mais afetado pela experiência: o estômago. Não era uma dor muito forte, mas o foco estava nele. Sobrepus minhas mãos na barriga, sobre o órgão, sem fazer cara de dor ou sofrimento. Era apenas o foco, o centro do efeito.<br />
<br />
- Pode sair da banheira.<br />
<br />
Acordei me sentando na cama, com o movimento de sair da banheira, as mãos na barriga, na altura do estômago. Ele não doía. Também não estava frio.Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-74610112438948379012015-02-12T06:06:00.002-08:002015-02-12T06:15:27.023-08:00O que ardeBarba de merthiolate<br />
ardendo amarrada<br />
mas barba não arde<br />
como "o ruído não acaba"<br />
<br />
o que arde é a luz ardendo na careca<br />
<br />
a barba se difunde<br />
se protege da luz<br />
uma cachopa sem abelhas<br />
como uma raiz suspensaVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-35752293981191162282015-02-10T16:57:00.001-08:002015-02-10T16:59:21.183-08:00Lava péMeu pé na minha mão<br />
gelado sofrido ensaboado<br />
depois da vida útil<br />
larga a meia-esposa e agora se faz de objeto<br />
de objeto incorpóreo<br />
<br />
olho pra ele sobre a pia tampando um olho<br />
colaborando com a farsa do pé peixe esquentando<br />
contente dando um sorriso de unhas<br />
<br />
meu pé ou um objeto<br />
a salvoVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-40666524600012585892015-02-02T08:39:00.002-08:002015-02-02T08:39:48.181-08:00Bloco flotanteUm bloco que flotava<br />
flotava, como na espanha<br />
tenso pelas supercordas<br />
superando a gravidade<br />
pela lógica da artimanhaVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-56049950626083604482015-01-09T07:19:00.000-08:002015-12-11T05:26:57.569-08:00Sonho #150109Um passarinho me entregou um poema hoje, num cartãozinho impresso colorido, pequeno. Depois eu soube que eram da Sinhá, eram passarinhos treinados. Eu tava na A7MA com a Livia e mais uma amiga dela. A Livia queria ir embora. Eu fiquei chateado, ela olhava os quadros vagamente, os pés apontavam pra direções contrárias, mexiam-se com frequência, como o pescoço que se torcia guiado pelo olhar que respondia a qualquer estímulo que desviasse a atenção – um grito na rua, alguém que tropeçasse, um espirro<br />
<br />
-corta-<br />
<br />
pra uma vista aérea e vários meninos negros no mar, nadando até um estabelecimento (no lugar do asfalto da rua havia o mar). Mais à direita, um café chique com pessoas chiques (ricas ou velhas) que dispunham as mesas muito encostadas na parede, lutando pela pouca sombra da construção, fugindo do sol<br />
<br />
eu em casa. Uns poetas mais velhos consertando alguma coisa no meu banheiro, acho que o cano da pia. Eles vieram me dar tchau depois, mas não podiam me cumprimentar porque suas mãos estavam cheias de graxa. Vestiam sobretudos e cachecóis, pareciam professores.Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-12338379020165057422014-11-14T09:26:00.001-08:002014-11-14T09:26:47.896-08:00SecaDe fumaça e desaforo<br />faz tempo que o céu de São Paulo<br />engole o choroVictor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-49484322162501062642014-09-10T17:35:00.003-07:002015-01-09T07:17:23.841-08:00Sinal Vermelho- O que cê tá fazendo?<br />
- Tô esperando o sinal abrir.<br />
<br />
Fernando estranhou a resposta. "Esperando o sinal fechar" ele quis dizer, não? Estavam a pé, afinal.<br />
<br />
Thiago permaneceu com as mãos no volante, em atitude relaxada.<br />
<br />
Fernando continuou estranhando. Olhou à sua volta, mas sem confiar muito no que via.<br />
<br />
O farol estava vermelho.<br />
<br />
Fernando entrou em dúvida. Procurou saber se estava de pé ou sentado. Tentou também notar o som ao seu redor. Caçava uma pista. Estaria ele no carro?<br />
<br />
Thiago finalmente estranhou a própria resposta que tinha dado. Alguma coisa o incomodou quando o eco do que acabara de proferir soou em sua cabeça, "tô esperando o sinal abrir". Olhou pra baixo e percebeu suas pernas esticadas, pisando num chão de concreto.<br />
<br />
Fernando, aos poucos, foi se acostumando com a ideia de que havia delirado. Seus dedos e palmas das mãos encostaram no assento do carro, procurando provas táteis.<br />
<br />
Thiago olhava pra baixo um pouco estarrecido, mas mantendo a frieza, pensando, "que viagem".<br />
<br />
Fernando se perguntou que brisa era aquela.<br />
<br />
O farol ainda estava vermelho.<br />
<br />
Thiago olhou pro sinal, se impacientou um pouco com a demora. Olhou pros carros parados à sua frente e desejou estar no ar condicionado, fresquinho. O sol rachava sua nuca. A camisa preta só piorava a situação.<br />
<br />
Fernando ainda estranhava. Lembrava estar de pé até agora pouco. E agora, à sua frente, via o porta-luvas. Seus polegares deslizavam pelo cinto de segurança e sua bunda se acomodava no acolchoado do assento.<br />
<br />
Thiago olhou pro lado e percebeu o incômodo do amigo.<br />
<br />
Fernando olhou pra Thiago com um desesperozinho na expressão.<br />
<br />
O sinal ficou verde.Victor Meirahttp://www.blogger.com/profile/05131928989220497046noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-47314173765513674362014-03-18T06:56:00.001-07:002014-03-18T07:02:06.691-07:00Sonho #140317Eu estava na piscina.<br />
<br />
- Vai ser lá no sétimo andar.<br />
<br />
As festas do condomínio aconteciam sempre nas áreas de convivência do hospital. Era um condomínio de médicos-moradores, cheio de verde, vida e crianças, mas hoje pairava um sentimento persistente de solidão, um silêncio atmosférico.<br />
<br />
- Espera aí, vou só botar a roupa.<br />
<br />
- Vai lá, filho, te encontro lá.<br />
<br />
Depois, quando tentei recordar a imagem do meu pai, tive a impressão de que ele estava descalço. Saí da piscina e fui pra casa botar uma roupa. Era um almoço não sei de quê, mas todas as festas da infância eram meio parecidas mesmo.<br />
<br />
Estacionava-se o carro no fundo da casa, o chão era de terra batida e o ar empoeirava quando a gente andava ali, ou quando o carro estacionava. A porta da belina estava aberta e havia um par de sapatos de menina no chão de terra, talvez fossem da minha irmã mais nova. Pisei sem querer em um dos pés de sapato e senti que estavam molhados, com aspecto de urina. Senti mais uma vez o silêncio e a solidão. A porta de casa também estava aberta, protegida só pela anteporta de tela verde.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-80733291712630151492014-03-10T06:01:00.000-07:002014-03-10T06:08:04.979-07:00Sonho #140307Cheguei com o pessoal no ateliê dele. O lugar se assemelhava a um ferro velho, com uma parede muito alta à minha direita feita de andaimes retorcidos e diagonais – uma instalação colossal. Ele nos apresentou três técnicas artísticas possíveis e eu me interessei só pela primeira. A última era um tipo de trabalho quase sem valor estético, concluí. Andamos mais um pouco até chegar numa segunda área aberta, também cheia de ferro velho. As mesas do ateliê eram tábuas de passar.<br />
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Ele me apresentou um trabalho feito pela assistente dele. A obra se encaixava naquele terceiro tipo técnico que não me impressionava. Era uma manta curta e escura, incrustada de pedras preciosas ou cápsulas de Nespresso, fiquei em dúvida. A peça tinha ares ciganos, como se feita para ser usada em espetáculos de dança do ventre. Fiquei desconfiado de que fosse um trabalho comercial reaproveitado agora como objeto artístico. Isso seria bem errado.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2160144797596506402.post-67667625748965749342013-12-31T13:09:00.002-08:002014-01-06T18:28:46.351-08:00Plantando um deusUma máscara vazia<br />
pra me matar<br />
ou plantar um deus<br />
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Colher espinhos no chão do sol<br />
semeando lhamas e ramalhetes em chamas<br />
pra catar cubos de luz<br />
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Esposas sem dono<br />
ovulam raposas no trono<br />
fazendas inteiras fenescem<br />
e não se sabe como<br />
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Não se sabe como<br />
você pare momentos assim<br />
planos muito ruins<br />
de quem pensa com sonoUnknownnoreply@blogger.com0