quinta-feira, 1 de março de 2012

Pouca gente

Opto com mais frequência por andar pela Avenida Paulista do que por pegar o metrô na volta pra casa. Levo mais tempo pra chegar, cruzo umas quebradas, mas prefiro. Hoje voltei ouvindo um som chamado Red Sparowes, olhando as coisas, percebendo as pessoas. A Paulista tem bancos, bares, museus, empresas e algumas universidades e, às onze, as calçadas ficam cheias dado o fim da aula. Enquanto passava por toda essa gente eu só tinha uma idéia em mente: conheço pouquíssimas pessoas. De alguma forma eu me identificava com todo mundo ali, como se fossem amigos meus ainda desconhecidos. E na minha cabeça eu chutava o número de pessoas com quem eu convivo, com resultados ínfimos demais. Vi um casal se beijando. Durante a vida toda a gente se acostuma a conviver diariamente com cinquenta, sessenta pessoas no mesmo ambiente. A escola, a faculdade, pra alguns o trabalho. Mas pra outros, e aí eu me incluo, o trabalho não se vale da mesma premissa social. Passei muito perto de um casal de meninas lindas se beijando como se beija pela primeira vez. Quase esqueci do que vinha pensando. Na real, a quantidade de gente na rua foi diminuindo conforme eu fui chegando na Brigadeiro. No ponto de ônibus, ainda na Paulista, vi mais um casal se beijando. Acho bonito isso, gosto quando vejo. Ver gente carinhosa assim na rua é uma manifestação linda, uma expressão pública muito gostosa. Na frente do Extra, já na Brigadeiro, vi outro casal se beijando. Esse não parecia de estudantes, já tinham seus trinta e se vestiam executivamente. Eu não estava procurando gente se beijando, mas foi a fortuna da caminhada da noite. Talvez eu não tenha percebido outros casais se beijando. Foi só algo que fui vendo, algo que foi me enternecendo ao longo da volta.

3 comentários:

Beatriz Jorge disse...

Muito louco como pequenas coisas tem o poder de mudar o nosso dia. E como já dizia Saramago, "Se podes olhar, vê; se podes ver, repara".
Caminhar e observar é sempre um lindo exercício.
Gostei

Lírica disse...

Tão enternecedor quanto os beijos é o seu relato. Hoje, solitários e aturdidos pela desesperança e pelo medo não podemos dispensar o luxo do afeto, ainda que alheio. É como se fôssemos, por vezes, veuyeristas da vida. A intimidade privada no lugar público tb ainda nos causa estranhamento, ainda mais na Paulista pq nos grandes centros as pessoas se resguardam, se fecham. Enfim, achar familiaridade boa em nosso entorno nos conforta. E relatar isso aqui é uma maneira gentil de partilhar o belo e acolhedor.

Deise Formentin disse...

Adorei teu blog...
se puder e quiser add o meu blog e ajude-me a divulgá-lo...

http://em-busca-de-mim.blogspot.com.br


Abraços


Deise