sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Lugares

Há lugares claros, fáceis, mesmo quando enormes, previsíveis, um pouco óbvios e manejáveis, cuja estrutura se deduz – quando não se vê – e a chance de um encontro bizarro é quase nula. Além desses, há os cômodos iluminados, onde pode-se sentar, deitar, ficar de pé e caminhar moderadamente. Infelizmente não é satisfatório passar a vida inteira nesses lugares. Pois há os cômodos escuros, onde as coisas não são tão óbvias. Lugares onde haverá matéria, provavelmente ar e uma porção de obviedades, mas em mesma escala que um possível encontro estranho, um toque imprevisível, uma dor imprevista, um ouro escondido. E além desses lugares, há países escuros.

3 comentários:

Pedro C. disse...

Grande Vítrico.
Um texto não fácil falando sobre as coisas fáceis.
A primeira vez que li foi difícil. Não conseguia situar esse lugar. Que após algumas leituras me pareceu os não-lugares da mente. Os cômodos da cabeça, com seus sofás confortáveis mas previsíveis como domingos.
E seus cômodos obscuros. Mas com ouro escondido (maravilhoso esse elemento surpresa).

Lembrei como que é ler seus textos, rapá. Geralmente, um conhaque: difícil no primeiro trago, confortável na terceira dose.

Carlos Henrique Viana disse...

Um texto que ficou entendível também pela segunda vez que li. Retratar um lugar que pode existir somente em uma mente, que por mais fértil que seja, ainda fica abstrato.

Victor Meira disse...

Chammé, é isso. São tipos de lugares imaginários, classificados em ordem de clareza e tamanho. Lugares podem ser entes, ou constelações de coisas, agrupamentos, espaços.

Carlos, apesar de se desenvolver por figuras e imagens, o texto é uma abstração, um devaneio sobre a natureza de diferentes tipos de conhecimento.