terça-feira, 12 de setembro de 2017

Ventos Suficientes

A nuvem de chumbo se instaura e fica por um tempo que sempre parece longo demais. Os moinhos eólicos espalhados nesse campo – inspirações, geradores de vontade – não giram faz tempo, suas hélices provavelmente enferrujadas por dentro. Imaginar um mundo em que os maiores obeliscos, se derrubados (ou se nunca tivessem existido), não fariam nenhuma falta, já que é insignificante o contingente de gente que mergulha de fato nas realidades possíveis (ou criadas) e qualquer impressão de relevância é ilusória. Nem mesmo os monólitos mais enraizados, tão mais colossais em sua fatia oculta (icebergs telúricos imunes ao calor em seus corpos de diamante), produzem vento, nem energia, nem inspiração. Mesmo assim, a nuvem presencia a tentativa dos cataventos, pequenos como girassóis espalhados nesse campo, cheios de boas intenções e planejamentos de auto-rotatividade para a geração de ventos suficientes enquanto, lá de cima, bloqueia a corrida natural do grande Ar ao som de uma profusão de promessas, trovões e chuvas torrenciais de flechas daninhas metralhadas na terra, que é eternamente ingênua, fecunda e castigada. O mundo prossegue acidental demais.

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