sexta-feira, 13 de junho de 2008

O Dia dos Vagalumes

Entrou pela janela, fechou e deixou o quarto mais escuro. O quarto era iluminado por centenas de celulares recarregando em centenas de tomadas. O chão era um macarrão de fios pretos, que fazia um som plástico quando pisoteados. Só havia eu e ele no mundo. Ele me beijou demoradamente, segurando em mãos um presente pra mim. Ao fim do beijo, ele me deu a caixinha que trouxera, dizendo que era pra mim. Eu abri, e tinha tempo dentro dela.

Não ousávamos sair do quarto. Havia muitos mosquitos lá fora, carregando o ar. Pensei que podiam ser vagalumes. Nunca são vagalumes, sempre são mosquitos, pernilongos ou qualquer outro bicho sem graça, e que ainda pica e coça. Tudo bem, eu tinha uma caixinha cheia de tempo.

Abri só uma frestinha da porta e puxei um punhado de mosquitos. Senti um bocado agulhinhas minúsculas me penetrando a carne da palma da mão. A idéia que eu tinha era boa pacas. Joguei os mosquitos dentro da caixinha de tempo que ele me dera e meti um celular junto. Fechei e chacoalhei, e quando abri, de lá saiu uma enorme porção de vagalumes. Que descoberta! Poderia fabricar dias inteiros de vagalumes ao invés de dias-muriçoca.

Olhei pra ele e perguntei por que ele me dera uma caixinha tão pequena. Ele não teve resposta e tentou me beijar de novo. Não! Empurrei-o e berrei com ele. Por que tinha que ser pequena assim? A tarefa seria muito exaustiva e a caixinha do tempo tiraria de mim todo o meu tempo. Acho que era assim que ela guardava tempo. Fiquei a observar a obra de minha idéia, cintilando em vôo irregular pela sala escura e azulada, luzida por eles e pelos celulares.

Quando comecei a pegar no sono, ele virou as costas, abriu a janela e foi embora. Dormi agarrado à caixinha. Pela manhã eu começaria minha obra-prima: o dia dos vagalumes. Era uma boa razão para viver.

5 comentários:

Beatriz disse...

Que conto louco. E esse Gênio da caixinha fez bem. Menos é mais numa hora dessas. A imagem do piso com fios, os celulares.Nunca vi nada mais maluco.

Anônimo disse...

Rapeize,
tentarei sonhar esse texto de noite. No ademais, não sei porque mas pensei num ambiente matrix, principalmente pelos celulares e os vários fios no chão (esse é o porquê, na verdade). Se os Wachowski Bros me auxiliassem, eu dirigiria. Se chamaria Vagalume Telemóvel.

Só mais um detalhe: senti nessa prosa, novamente, um narrador feminino, como o Sr. Buarque costuma minuciar. Pergunto sem mais ademais: estais de Chico?

Abrasss

AEmarcondes disse...

vitao... que loucura...
muito bom cara. dificil escrever em uma visao de mundo diferente e tao atual.
ganhamos tempo com nossas "caixinhas" que acabam por nos tomar mais tempo ainda do que tinhamos.

Heyk disse...

Olha, bicho, eu jpá acredito mesmo que vc não erra mais. Coloca isso tudo aí numa caixinha e vai ser best seller lá na puta que pariu!

viva você!

Anônimo disse...

VIVO E TRABALHO NO RJ,POREM TEMO
PORQUE TENHO FAMILIA E CONVIVO COM
PESSOAS QUE SÃO UMA AMEÇA PARA SOCIEDADE,(ERBON).NO MEU DIA A DIA DEPOSITO MINHA CONFIANÇA EM DEUS E SUAS PROMESAS PARA IR E VIR DE QUALQUER LUGAR,SERÁ QUE CHEGARÁ O DIA QUE NESTA CIDADE TEREMOS PAZ?
MEU CORAÇÃO ANSEIA POE ESTE DIA.
A PAZ DE JESUS ESTEJA COM TODOS.