quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Júbilo do Esgoto

Àquela noite lhe brotou um par de enormes asas. Lembra? Quebrou o lustre da sala, derrubou o abajur e um vaso foi ao chão. Foi uma dor tão forte que o fez desvanecer em desmaio. Nossa presença invisível apenas observou o corpo e as plumas manchadas de sangue. Só retomou consciência pela manhã, enquanto pasmava incrédulo ante seus novos apêndices.

Nós já sabíamos que ia acontecer; apenas esperamos: abriu a janela do prédio e caiu até o chão, planando. Mas isso foi só na noite seguinte. Descemos e chamamos todos os convivas. Éramos centenas, e havia até dois cães representando sua espécie. Saudamo-lo em coro e ele, adônico em toda sua humanidade, juntou-se sem hesitação.

Afinal, juntar-se aos inferiores sempre foi de seu feitio.

2 comentários:

Rachel Souza disse...

Nossa! Vida e morte caminhando de mãos dadas, sorridentes ao atravessar a esquina de um dia florido. Lindo isso! gostei da ironia no fim.rs
Bjo.

Anônimo disse...

Consegui visualizar tudo, um cão era marrom desbotado e o outro preto noite.