Acordei com uma sensação esquisita, não estava em casa. Fui à cozinha, a tia do Ricardo tinha preparado café. Os amigos ainda dormiam, os olhos ainda embaçavam, a manhã ainda esquentava enquanto o café pretendia o contrário. A tia, simpática, perguntou como eu tinha passado a noite antes de se retirar do cômodo. Pinguei leite frio no café depois de queimar de levinho a ponta dos dedos no copo de vidro. Eu tinha lido um conto do Borges na noite anterior, antes de dormir, e uma ideia que mal estava no livro enganchara-se em minha cabeça a ponto de me encarar, agora de manhã, no espelho escuro da superfície do café. Lera, numa nota de rodapé:
Russell (The analysis of mind, 1921, p.159) supõe que o planeta foi criado há poucos minutos, provido de uma humanidade que recorda um passado ilusório.
A ideia flutuava no café parado com a vaga descrição do meu rosto perdido em ficções.
Um comentário:
Belas palavras.
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