Eu estava na piscina.
- Vai ser lá no sétimo andar.
As festas do condomínio aconteciam sempre nas áreas de convivência do hospital. Era um condomínio de médicos-moradores, cheio de verde, vida e crianças, mas hoje pairava um sentimento persistente de solidão, um silêncio atmosférico.
- Espera aí, vou só botar a roupa.
- Vai lá, filho, te encontro lá.
Depois, quando tentei recordar a imagem do meu pai, tive a impressão de que ele estava descalço. Saí da piscina e fui pra casa botar uma roupa. Era um almoço não sei de quê, mas todas as festas da infância eram meio parecidas mesmo.
Estacionava-se o carro no fundo da casa, o chão era de terra batida e o ar empoeirava quando a gente andava ali, ou quando o carro estacionava. A porta da belina estava aberta e havia um par de sapatos de menina no chão de terra, talvez fossem da minha irmã mais nova. Pisei sem querer em um dos pés de sapato e senti que estavam molhados, com aspecto de urina. Senti mais uma vez o silêncio e a solidão. A porta de casa também estava aberta, protegida só pela anteporta de tela verde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário