quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Sinal Vermelho

- O que cê tá fazendo?
- Tô esperando o sinal abrir.

Fernando estranhou a resposta. "Esperando o sinal fechar" ele quis dizer, não? Estavam a pé, afinal.

Thiago permaneceu com as mãos no volante, em atitude relaxada.

Fernando continuou estranhando. Olhou à sua volta, mas sem confiar muito no que via.

O farol estava vermelho.

Fernando entrou em dúvida. Procurou saber se estava de pé ou sentado. Tentou também notar o som ao seu redor. Caçava uma pista. Estaria ele no carro?

Thiago finalmente estranhou a própria resposta que tinha dado. Alguma coisa o incomodou quando o eco do que acabara de proferir soou em sua cabeça, "tô esperando o sinal abrir". Olhou pra baixo e percebeu suas pernas esticadas, pisando num chão de concreto.

Fernando, aos poucos, foi se acostumando com a ideia de que havia delirado. Seus dedos e palmas das mãos encostaram no assento do carro, procurando provas táteis.

Thiago olhava pra baixo um pouco estarrecido, mas mantendo a frieza, pensando, "que viagem".

Fernando se perguntou que brisa era aquela.

O farol ainda estava vermelho.

Thiago olhou pro sinal, se impacientou um pouco com a demora. Olhou pros carros parados à sua frente e desejou estar no ar condicionado, fresquinho. O sol rachava sua nuca. A camisa preta só piorava a situação.

Fernando ainda estranhava. Lembrava estar de pé até agora pouco. E agora, à sua frente, via o porta-luvas. Seus polegares deslizavam pelo cinto de segurança e sua bunda se acomodava no acolchoado do assento.

Thiago olhou pro lado e percebeu o incômodo do amigo.

Fernando olhou pra Thiago com um desesperozinho na expressão.

O sinal ficou verde.

Um comentário:

Chammé disse...

Que conflito legal pra caramba, Vito.

Tenso. No começo rola releituras das três primeiras linhas. É difícil entrar na base do conto: quem são os personagens? onde eles tão? Mas aí temos que desmarcar o campo Realidade, que na minha cabeça geralmente tá ticado, que a (não-)descoberta flui junto com a dos personagens.

Foi um brain damage amigo, manero.

Preciso também ser chato: cara, não escreva mais a palavra bumbum. É muito comercial de hipoglós com aquela bundinha-seda dos nenês. Juro que até nádegas é melhor.

E invista sempre em coisas como desesperozinho.

Yes.