- O que cê tá fazendo?
- Tô esperando o sinal abrir.
Fernando estranhou a resposta. "Esperando o sinal fechar" ele quis dizer, não? Estavam a pé, afinal.
Thiago permaneceu com as mãos no volante, em atitude relaxada.
Fernando continuou estranhando. Olhou à sua volta, mas sem confiar muito no que via.
O farol estava vermelho.
Fernando entrou em dúvida. Procurou saber se estava de pé ou sentado. Tentou também notar o som ao seu redor. Caçava uma pista. Estaria ele no carro?
Thiago finalmente estranhou a própria resposta que tinha dado. Alguma coisa o incomodou quando o eco do que acabara de proferir soou em sua cabeça, "tô esperando o sinal abrir". Olhou pra baixo e percebeu suas pernas esticadas, pisando num chão de concreto.
Fernando, aos poucos, foi se acostumando com a ideia de que havia delirado. Seus dedos e palmas das mãos encostaram no assento do carro, procurando provas táteis.
Thiago olhava pra baixo um pouco estarrecido, mas mantendo a frieza, pensando, "que viagem".
Fernando se perguntou que brisa era aquela.
O farol ainda estava vermelho.
Thiago olhou pro sinal, se impacientou um pouco com a demora. Olhou pros carros parados à sua frente e desejou estar no ar condicionado, fresquinho. O sol rachava sua nuca. A camisa preta só piorava a situação.
Fernando ainda estranhava. Lembrava estar de pé até agora pouco. E agora, à sua frente, via o porta-luvas. Seus polegares deslizavam pelo cinto de segurança e sua bunda se acomodava no acolchoado do assento.
Thiago olhou pro lado e percebeu o incômodo do amigo.
Fernando olhou pra Thiago com um desesperozinho na expressão.
O sinal ficou verde.
Um comentário:
Que conflito legal pra caramba, Vito.
Tenso. No começo rola releituras das três primeiras linhas. É difícil entrar na base do conto: quem são os personagens? onde eles tão? Mas aí temos que desmarcar o campo Realidade, que na minha cabeça geralmente tá ticado, que a (não-)descoberta flui junto com a dos personagens.
Foi um brain damage amigo, manero.
Preciso também ser chato: cara, não escreva mais a palavra bumbum. É muito comercial de hipoglós com aquela bundinha-seda dos nenês. Juro que até nádegas é melhor.
E invista sempre em coisas como desesperozinho.
Yes.
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